Longe das quatro linhas dos gramados, das partidas, dos jogadores e da torcida, o futebol brasileiro vive um momento de mudança. Pondera-se a necessidade de adoção de uma postura mais empresarial, em meio à paulatina abertura do mercado para investidores. A tendência foi reforçada recentemente pelas declarações favoráveis do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Porém, a concretização desse processo depende do aprimoramento do balanço financeiro dos clubes, quesito no qual o País está atrasado.

"Temos alguns modelos de investidores no futebol, mas ainda é muito incipiente", observa Carlos Aragaki, coordenador da Câmara de Contadores do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil. "Para que haja investidores, os clubes precisam oferecer informações claras sobre seus balanços financeiros. Estes devem ser validados por firmas de auditoria independente, exatamente como ocorre com as empresas listadas e de acordo com o previsto na Lei 9615/98, a Lei Pelé".

Levantamento feito pelo Globo Esporte indicou que metade dos times da Série A do Campeonato Brasileiro teve ressalvas em seus balanços financeiros. Desde a aprovação da Lei Pelé, de 1998, os clubes precisam elaborar suas demonstrações contábeis e ser auditados por firmas de auditoria independente. Estas, por meio de procedimentos técnicos, analisam se as informações apresentadas representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a situação patrimonial e financeira da organização, o desempenho de suas operações e seus fluxos de caixa. As análises realizam-se de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil.

Contudo, isso nem sempre acontece de maneira adequada. "Muitas vezes, a auditoria de clubes é feita sem a atenção aos principais eventos do futebol, já previstos na Interpretação Técnica Geral (ITG) 2003 para as Entidades Desportivas. Tais particularidades, a serem consideradas nesse segmento, implicam contabilizar o valor dos ingressos (borderôs), receita dos direitos de TV, venda de jogadores e custo da formação dos atletas de base, dentre outros itens", explica Aragaki. "Times pequenos, da série B, por exemplo, que já estão sendo procurados por investidores chineses, não contam com profissionais especializados para esse tipo de serviço. Por isso, é necessário aprimorar e melhorar a contabilidade e a auditoria independente dos clubes, de modo que haja mais segurança e responsabilidade, além da busca incondicional por governança e transparência", destaca o coordenador do Ibracon.

Esse aprimoramento terá de vir juntamente com outro ponto importante, que é a revisão dos estatutos sociais e o avanço relativo à criação de clubes-empresas ou sociedades anônimas desportivas. Assim, os times deixarão de ser entidades sem fins lucrativos, atraindo mais os investidores. Hoje, um exemplo de clube-empresa a ser citado é o da Red Bull.

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