A emoção da vitória ou a frustração da derrota é perceptível nos atletas no fim de cada jogo. Para quem torce, lidar com este tipo de situação é mais fácil e cômoda, afinal, é só aguardar pela próxima partida esperando resultados melhores. Mas, para os profissionais, principalmente de alto rendimento, a pressão de defender uma camisa, seja do clube ou do país, gera um abalo emocional muito grande e consequências na saúde mental e física.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade de casos de depressão cresceu 18% em dez anos. Até 2020, esta será a doença mais incapacitante do planeta. Segundo estudo da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FIFPro), jogadores profissionais sofrem mais de doenças psiquiátricas do que o público em geral – dos 607 atletas entrevistados, 38% relataram sofrer com sintomas de depressão e/ou ansiedade.

Para o psicólogo Bruno Vieira, especializado em Psicologia e Desempenho Esportivo pelo FC Barcelona, "alguns atletas possuem uma personalidade introspectiva e sem o devido preparo emocional. Quando enxergam, por meio da psicologia, o que é foco, atenção e cronobiologia (ciência que estuda os ritmos biológicos, a sua interação com o ambiente e com o ser humano), eles mudam de postura e descobrem o que devem priorizar na vida pessoal e profissional. Além de ter a percepção que seu crescimento é inerente".

Diferentemente dos países europeus, a psicologia esportiva não tem sua atuação no Brasil como deveria. "Os clubes possuem um psicólogo para o atendimento de toda a equipe, tendo como objetivo fazer o time caminhar, não necessariamente, cuidar da saúde mental, física e emocional de cada jogador", explica o psicólogo que complementa: "Os clubes brasileiros e os empresários ainda precisam entender a importância deste tipo de acompanhamento de forma constante, não somente quando há uma psicopatologia instalada e assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento dos seus atletas".

Fama, família e dinheiro

Mesmo sendo vistos como jovens privilegiados por ter fama e dinheiro, muitas pessoas não possuem a percepção que a depressão não distingue classe social. "O excesso da fama, visibilidade, dinheiro na conta, são gatilhos para perder o foco e desenvolver hábitos errôneos e sintomas depressivos ou doenças psicológicas como ansiedade, síndrome do pânico e transtornos obsessivos.

Bruno explica que, além destes pontos, a família também exerce uma relevante função com relação ao desenvolvimento do talento esportivo do jogador. Porém, em muitos casos, os familiares possuem cargos administrativos na vida destes atletas, gerando distorções das funções. "Os membros da família têm que mostrar imparcialidade e clareza de visão suficientes para não confundirem os laços familiares com os profissionais. Mas, infelizmente, muitos pais não resistem à tentação de seguir um estilo de gestão paternalista em relação ao filho. Por isso, muitas vezes tratamos não só o atleta, mas as pessoas que estão ao seu lado também É preciso saber lidar com a complexidade das relações afetivas e financeiras", finaliza.

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