Maria Clara Augusto da Silva cresceu no pequeno município de
Elói de Souza, no interior do Rio Grande do Norte. Com má-formação no braço
esquerdo, a jovem descobriu o atletismo aos 11 anos de idade, em meio a
crianças sem deficiência durante brincadeiras na cidade de quase 6 mil
habitantes. Em pouco tempo, o esporte transformou a vida da adolescente, hoje
com 15 anos, e garantiu uma mudança de perspectiva pessoal, profissional e
social de Maria Clara e, também, de toda a família.
A potiguar é a atleta mais jovem da delegação brasileira nos
Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru. Em 2019, Maria Clara passou a
receber pela primeira vez o auxílio financeiro do programa Bolsa Atleta, o que
permitiu complementar a renda da família de cinco pessoas, beneficiada também
pelo Bolsa Família do Ministério da Cidadania, pasta que reúne as Secretarias
de Desenvolvimento Social, Esporte e Cultura.
Quando a família morava no interior, a mãe da jovem vendia
salgados e doces. Segundo a atleta, eram horas de trabalho e até noites sem
dormir, trabalhando direto. "Até o ano passado, quando eu morava no
interior, só uma pessoa da minha casa trabalhava. São cinco pessoas e era um
salário para ajudar todo mundo. Neste ano comecei a receber a Bolsa Atleta e
conseguimos mudar para Natal com os meus parentes", conta Maria Clara.
"A partir daí o pessoal de casa conseguiu arrumar emprego e as coisas
começaram a melhorar bastante. O Bolsa Atleta passou a ajudar na minha
vida", completa.
As melhores condições de treinamento e de moradia foram
possíveis graças à recomposição orçamentária realizada pelo Ministério da
Cidadania ao Bolsa Atleta, como parte das ações dos 100 primeiros dias do novo
governo. Por meio da Secretaria Especial do Esporte houve aporte de R$ 70
milhões ao programa, que dobrou o número de atletas apoiados, passando de 3.058
para 6.199. A ação reverteu o corte sofrido no fim de dezembro de 2018 e deu
prioridade às categorias de base – Estudantil e Nacional.
Maria Clara foi incluída na categoria Estudantil. Para o
ministro da Cidadania, Osmar Terra, ações como a Bolsa Atleta e a Bolsa Família
são instrumentos que garantem a cidadania plena. "Esse é o esforço que
buscamos para garantir a cidadania plena para todos os brasileiros. Procuramos
atender as pessoas das regiões mais longínquas do Brasil para que tenham
oportunidades para desenvolverem seus talentos, desabrocharem as suas
competências e habilidades das famílias e da sociedade", disse.
O secretário especial do Esporte, Décio Brasil, acrescentou
que o exemplo de Maria Clara mostra um amplo exercício de cidadania, que
garante a inclusão social, o acesso a serviços e benefícios sociais, garantindo
oportunidades de trabalho para uma melhor qualidade de vida. "Ela
representa exatamente o fundamento de cidadania plena que o Ministério da
Cidadania prega. O Bolsa Família associado ao Bolsa Atleta nos rende uma atleta
de ponta que, provavelmente, terá uma grande repercussão nos cenários nacional
e internacional", ressalta.
Para o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB),
Mizael Conrado, o programa de apoio ao atleta é responsável pela maior
delegação que disputa os Jogos em Lima. "A Bolsa Atleta é um marco para o
esporte paralímpico. Posso dizer que existe o esporte paralímpico antes e
depois do programa. Ele oferece melhores condições para a maior parte dos
atletas que estão aqui se dedicarem de fato aos treinamentos e terem condições
adequadas. A cada dia o esporte fica mais competitivo e exige mais investimento
para alimentação, suplemento e qualidade de treinamento", analisa Mizael
Conrado.
Ampliando as fronteiras
No início no atletismo, ainda aos 11 anos, Maria Clara
competia contra atletas convencionais. A história no esporte paralímpico
começou em 2016, graças ao treinador Felipe Veloso, que apresentou um universo
desconhecido à garota do interior. "Competi no meu primeiro campeonato
Escolar Paralímpico em 2016. Disputei três provas e conquistei três medalhas de
ouro. Voltei em 2017 e levei outros três ouros. A história se repetiu em 2018.
Este ano está sendo incrível. Participei no mês passado do Campeonato Mundial
de jovens na Suíça e conquistei duas medalhas de ouro e uma de prata",
conta orgulhosa a atleta que vai disputar as provas de salto em distância, 100m
e 200m em Lima.
É a primeira vez que Maria Clara representa o país em um
megaevento. "Nunca tinha imaginado competir e representar o Brasil fora do
país. Lá no interior, de onde eu vim, as coisas são precárias. Eu só fazia o
atletismo por diversão, corria na cidade vizinha e, realmente, nunca imaginei
estar aqui e principalmente sair do Rio Grande do Norte", relembra.
Sonho paralímpico
No esporte paralímpico, a atleta mais jovem da delegação tem
como referência a amiga de pista Thalita Vitoria, 22 anos, também do Rio Grande
do Norte. Thalita conta na carreira com a medalha de prata no revezamento
4x100m nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016, além das pratas no salto, nos 200m e
nos 400m na última edição dos Jogos Parapan-Americanos disputados em Toronto
2015. "Eu me espelho muito na Thalita. Ela é minha amiga. Durante os
treinamentos ela sempre me orienta com dicas, além de me apoiar nas
competições", completa Maria Clara.
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